O agente de viagens Camillo Kahn, de 90 anos, foi o grande homenageado na comemoração do cinqüentenário da ABAV - Associação Brasileira de Agências de Viagens - , que realiza de 23 a 26 de outubro no Riocentro a Feira das Américas e a 31ª edição do seu congresso anual.
Representando os quinze agentes de viagem que se reuniram em 1953 para fundar a ABAV, a entidade deu o nome Camillo Kahn para a sala de imprensa do evento. "A principal causa que nos uniu à época era a luta para conseguir o reconhecimento da profissão. Cinqüenta anos depois, essa luta ainda continua - mas felizmente parece que estamos perto de conseguir esse objetivo", disse Kahn, muito emocionado.
O presidente da ABAV Nacional, Tasso Gadzanis, também se emocionou: "Ele é um homem pacato, equilibrado, amigo, bom pai de família e, acima de tudo, um entusiasta do turismo há 75 anos", elogiou.
Pode-se dizer que Camillo Kahn começou no turismo ao fazer a viagem definitiva de sua vida: aos nove anos, quando veio de Luxemburgo para o Brasil. Ao lado do pai, iniciou sua vida profissional vendendo passagens de navio - representavam o Lloyd Real belga e a israelense Zim Navegation Company.
Tiveram que parar durante a guerra - e esse foi o único período de sua vida em que não trabalhou com turismo, quando atuou em um escritório de advocacia paulista cuidando da desapropriação do Anhangabaú. Em 1947, com o fim da guerra e a reestruturação dos transportes, abriu sua primeira agência e batizou-a com seu nome.
A Agência Camillo Kahn, como todas as outras poucas existentes no mercado, atuava em todos os segmentos, tendo grande clientela nos nichos religioso e estudantil. Kahn acredita ter organizado a primeira excursão internacional, que no meio do século passado levou um grupo de quase 50 passageiros para Buenos Aires de navio.
Em 72, sua agência era líder do mercado carioca e foi vendida para o Unibanco. "Moreira Salles me disse que queria a agência número 1 do Rio para ele", diz, orgulhoso. Kahn começou tudo de novo, inaugurando no Rio a Kontik, que já existia na Bahia - e em 84 vendeu-a para a American Express. De lá para cá, deixou de ser proprietário e hoje faz o que gosta: é apenas agente de viagens, cuidando exclusivamente de cruzeiros marítimos na agência Gulliver Turismo.
Passado tanto tempo - "mais que 50 anos de ABAV, eu tenho 75 de turismo e quase 90 de vida" -, Kahn anda desanimado com a profissão: não aceita mais convites, pouco viaja e acredita que o cenário não favorece quem está entrando no mercado agora. "Muitos abriram agências para viajar de graça ou com desconto e comprometeram a qualidade do serviço que prestávamos", lamenta. "Antes não havia tanta concorrência e os agentes atendiam a todos os setores. Hoje acredita-se que uma faculdade é suficiente para habilitar o agente, e isso não é verdade: é preciso trabalhar muito duro em agências ou escritórios, entender e utilizar os GDSs e estudar vários idiomas para ser um agente de viagens completo".
No entanto, Kahn ainda tem fôlego de garoto para levantar bandeiras: "Também me dói ver que o Rio de Janeiro anda esquecido, pois aviões e navios não vêm mais para cá. É preciso urgentemente revitalizar o Galeão e, sobretudo, facilitar a atracação dos grandes cruzeiros nos portos do Rio e de todo o Brasil".
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