Desafios e Oportunidades para um Setor com Demanda em Crescimento
Plinio M. Nastari
Os efeitos da crise financeira de 2008 ainda são perceptíveis em um bom pedaço do setor sucroalcooleiro brasileiro, mas os impactos causados por três anos consecutivos (2009 a 2011) de clima anormal começam a ficar superados, pelo menos na região Centro-Sul que deve representar na safra 2013/14 cerca de 92 porcento da moagem de cana do País. A região Norte-Nordeste ainda enfrenta o desafio de superar a grave seca que asola a região, e que tem poupado de forma moderada apenas aqueles produtores que investiram e dispõem de irrigação complementar ou de salvamento.
Na safra 2013/14, a moagem de cana na região Centro-Sul deve se aproximar da capacidade efetiva de moagem, com um índice de ocupação superior a 95 porcento, e que vai depender do aproveitamento de tempo das usinas a ser determinado pelo clima durante a safra. Chama atenção a queda assentuada no ritmo de expansão da capacidade de moagem, com poucos novos projetos e expansão de usinas já existentes entrando em operação em 2013, ao mesmo tempo em que existe a perspectiva de que outras usinas se somem à lista das 41 que encerraram atividades desde 2008. Portanto, a capacidade efetiva de moagem ficará estagnada ou apresentará um crescimento modesto. O prazo de maturação de novos investimentos em moagem é de 2 a 3 anos no mínimo, o que significa que mesmo havendo potencial de crescimento da produção agrícola, a expansão da produção de produtos finais estará, neste horizonte, comprometida pela limitação de capacidade de moagem
A área com maior potencial de redução de custos ao alcance da indústria é o aumento da produtividade agrícola, e neste aspecto as perspectivas são alvissareiras. O atual estágio tecnológico já permite a geração de 7 mil litros de etanol por hectare (na forma de etanol ou açúcar), e em pouco tempo, possivelmente até o final desta década, poderá ser possível atingir produtividades agroindustriais próximas a 12 mil litros por hectare. Segundo o diretor executivo do CTC, Gustavo Leite, espera-se chegar a entre 30 e 35 mil litros por hectare até 2035. São números impressionantes considerando que o etanol de milho garante uma produtividade média atualmente de 3,2 mil litros por hectare, e o seu potencial máximo é de 6,5 mil litros por hectare, além da menor vantagem em termos de balanço energético e redução na emissão de gases do efeito estufa. É importante que não haja perda de oportunidades.
Os desafios permanecem não apenas no aperfeiçoamento das operações agrícolas de plantio e colheita mecanizada, como no cumprimento de normas legais. A Lei da Balança, que limitou em 75 toneladas o peso bruto transportado (cana mais tara) por comboio, deve aumentar os custos de transporte da matéria prima. A Lei do Caminhoneiro, que deve o efeito prático de reduzir entre 25 e 30% a frota rodante do País exatamente no momento em que cresce a oferta de açúcar e etanol e principalmente de grãos, deve elevar, junto com o aumento do preço do diesel, o frete dos produtos finais.
Ao mesmo tempo em que as demandas por açucar e etanol continuam em expansão no mundo, no curto prazo a indústria enfrenta o terceiro ano consecutivo de superavit no mercado mundial. A pergunta é por quanto tempo mais vai se manter esse cenário? O mercado brasileiro exige uma produção cada vez maior de etanol para atender o seu crescente mercado interno. As exportações de etanol retomam o crescimento. Ao mesmo tempo, existe um real potencial de expansão da produção de açucar na India, Europa, Tailandia e Australia.
Este cenário complexo deverá afetar profundamente a maneira que o setor sucroenergético irá operar a partir do próximo ano. Especialistas renomados debaterão estas questões essenciais no 7th ISO DATAGRO New York Sugar & Ethanol Conference, que acontece no dia 15 de maio de 2013, e cujo tema é “Sugar surplus weighing on the market?” (www.isodatagroconferences.com.br).
*Plinio M. Nastari é mestre e doutor em economia agrícola e presidente da DATAGRO. |