Artigo de -Plinio Mario Nastari - Presidente da Datagro
Com intenção de disponibilizar mais informação a respeito dos nÃveis de emissão veicular, o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama, infelizmente, somente conseguiram causar polêmica desnecessária a respeito das caracterÃsticas ambientais do etanol combustÃvel.
Ao usar metodologia inapropriada e deixar de levar em conta aspectos técnicos relevantes, de forma precipitada foi sugerida uma métrica para comparar veÃculos que utilizam como combustÃvel gasolina ou etanol que até agora não esclarece, e contradiz três décadas de resultados positivos no controle de emissões veiculares, que levaram ao reconhecimento nacional e internacional do etanol como combustÃvel limpo, não só a nÃvel de emissões globais, mas também locais.
A metodologia proposta falha em pelo menos cinco planos distintos: ao não levar em conta diferenças na tecnologia automotiva empregada em cada modelo-marca; ao não levar em conta a otimização da combinação entre as tecnologias automotiva e de combustÃvel; ao não levar em conta a tolerância por contaminação de cada indicador de poluição; ao levar em conta apenas três indicadores de poluição, desconsiderando outros importantes; e ao desconsiderar aspectos ligados a emissões de impacto global.
É preciso reconhecer que emissão veicular é função de um conjunto de fatores que incluem peso, potência e tecnologia embarcada. Um veÃculo importado desenhado para operar com gasolina no seu paÃs de origem que, para atender rÃgidas exigências locais, tenha sido equipado com controle computadorizado de injeção, sonda-lambda, conversores catalÃticos e outros dispositivos de redução de emissão, vai emitir muito menos monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), óxidos de nitrogênio (NOx), aldeÃdos, particulados, ozônio e tudo mais, do que um carro a etanol, ou flex usando etanol, que não tenha a mesma configuração. Divulgar uma lista de modelos-marcas, indicando se são movidos a gasolina ou etanol, mostrando que aqueles que menos emitem são os movidos a um ou outro combustÃvel, é uma crassa indução ao erro. A comparação somente começaria a fazer sentido se realizada com veÃculos equipados com a mesma tecnologia, seguindo ciclos pré-estabelecidos de operação, como os utilizados nas rigorosas rotinas de homologação, para avaliar condições de operação em bases equivalentes. Por exemplo, desde o inicio dos anos 80, a emissão de CO no Brasil passou de 33 g/km (gasolina) e 18 g/km (etanol), e para os atuais (2007) 0,48 g/km (flex-gasolina) e 0,47 g/km (flex-etanol). Uma enorme evolução, fruto de esforço conjunto da engenharia automotiva e dos órgãos responsáveis pelo controle de emissões. Mas é preciso compreender que deve-se esperar emissões menores num veÃculo equipado com tecnologia mais avançada, e que por este motivo custa mais de R$ 100 mil, à s obtidas num veÃculo popular, menos equipado, que custa R$ 25 a 30 mil.
Em segundo lugar, o etanol é composto quÃmico único, enquanto a gasolina é uma mistura heterogênea de hidrocarbonetos leves. É mais fácil projetar um motor para operar a etanol, do que a gasolina, pois a massa molecular e as caracterÃsticas fÃsico-quÃmicas do etanol são únicas. Portanto, é mais provável que a tecnologia para o etanol possa ser mais facilmente otimizada. Mas nem sempre isso acontece, principalmente quando a base da tecnologia é a de um motor a gasolina, e não etanol, desde a concepção original. É, dentre outros fatores, por isso que nos carros flex brasileiros, cuja base são carros a gasolina, o uso do etanol pode, à s vezes, gerar emissões ligeiramente superiores à s obtidas quando o carro opera com gasolina. Além do fato de que o carro flex é um compromisso, ou meio termo, em termos de consumo, emissões e dirigibilidade, não sendo possÃvel a otimização desses fatores, como poderia ocorrer num carro a etanol ou gasolina.
A nota verde também erra ao conferir o mesmo peso ao cumprimento de metas de CO, HC e NOx. Emitir apenas 10% do limite permitido de CO pode ser menos importante do que emitir 10% do limite de um determinado HC, ou NOx. Além disso, é proposta uma média simples dos três graus de cumprimento, como se CO, HC e NOx tivessem a mesma importância. Isso é avaliado através do conceito de TLV, que indica o valor limite de tolerância do ser humano à contaminação de cada substância. Como exemplo, a American Conference of Governmental Industrial Hygienists propõe um TLV de 25 ppm para CO, e de 5 ppm para NO2. Para os HC’s é ainda mais complicado, pois são muitos e podem ser classificados como reativos e não-reativos, para efeito de geração de smog fotoquÃmico - os HC’s obtidos pela queima de etanol são, em grande medida, não-reativos!
A nota verde tampouco leva em conta outras substâncias tóxicas como enxofre, particulados, aldeÃdos e ozônio. As emissões de derivados de enxofre, presentes na gasolina, e ausentes no etanol, são causadoras de chuva ácida. As emissões de particulados, advindas da queima de combustÃveis fósseis, e ausentes no caso do etanol, são meios de entrada de elementos cancerÃgenos nos pulmões. Os aldeÃdos emitidos pela queima do etanol são basicamente acetaldeÃdo (TLV 25 ppm), primo quÃmico do vinagre que colocamos na salada, enquanto aldeÃdos emitidos pela queima da gasolina são basicamente formaldeÃdo (TLV 1 ppm), algo muito próximo do formol, usado para conservar cadáveres. O ozônio é gerado pela reação de hidrocarbonetos reativos e NOx na presença de luz.
Finalmente, a nota verde, não faz qualquer referência à emissão de gases causadores do efeito estufa, aspecto no qual o etanol, principalmente o de cana, tem grande impacto positivo por ser quase neutro em emissões de CO2.
Por estes motivos, a idéia de conferir uma nota verde precisa evoluir bastante. A metodologia atual cria a falsa impressão de que o etanol de cana, não é tão bom combustÃvel quanto muitos imaginavam. Em verdade, o etanol pode ser muito melhor do que as métricas disponÃveis já indicam, pois seu aproveitamento quÃmico e energético ainda está sendo otimizado – e esta evolução precisa ser estimulada, não o contrário.
O artigo está com 6.199 caracteres. |