PARECE QUE JA OUVIMOS ESTA HISTÓRIA!
Guilherme Nastari*
No final de 2008 estávamos preocupados com o inicio da safra 09/10 e com os futuros impactos da crise financeira. Naquela época havia uma enorme contradição, enquanto os preços de açúcar e álcool não remuneravam o custo de produção, a imagem que estava sendo construÃda era de um Brasil de riqueza comparada a dos paÃses produtores de petróleo.
Cinco meses depois, o cenário está muito parecido com outros momentos históricos deste setor. A falta de crédito colocou em situação delicada grande parte dos elos da cadeia sucroalcoleira. Não só as usinas mas também fornecedores de cana, insumos agrÃcolas e equipamentos estão sofrendo com este perÃodo turbulento.
Em contraciclo, o mercado de açúcar mais uma vez mostra sua recuperação e engata tendência de alta, tendo como combustÃvel principal o deficit mundial de 7,8 milhões de toneladas de açúcar crú, estimados para esta safra mundial. A India mais uma vez é o motorista deste caminhão que nos conduz a algum lugar muito interessante e ainda não muito certo.
Os preços estão subindo e as estimativas também. Ja estão sendo publicadas projeções bem arrojadas, como as que indicam preço do açúcar acima de 30 cts/lb (centavos de dolar por libra peso). Será que não está parecido com as estimativas do petróleo do ano passado? Não sabemos se são números especulativos ou um acerto inesperado de previsões altistas.
O custo atual de produção FOB do açúcar brasileiro, para uma taxa de câmbio de 2,03 reais, é de 12,48 cts/lb. Certamente esta folga está ajudando a manutenção das boas expectativas futuras para os mercados de açúcar e álcool. Os fundamentos de médio e longo prazo continuam em ordem, consolidando assim atuais e novos investimetos.
A bola de cristal mais uma vez está produzindo números bem otimistas para o mercado de açúcar. O reflexo pode ser a entrada de participantes menos competitiveis ou até mesmo incentivar, mais uma vez, uma renovada produção de cana na India.
Já no mercado de álcool os movimentos estão mais agressivos. Ações de curto prazo estão deixando cada vez mais vulneraveis alguns participantes. As sucessivas folgas de preço não tem remunerado ao menos o custo de produção. Sedenta de capital de giro, a industria acaba se desfazendo de seus estoques e derruba os preços no curto prazo.
Mas mesmo neste ambiante difÃcil, o mercado de álcool continua muito promissor. Nas últimas semanas foi dado o reconhecimento definitivo do etanol de cana como o melhor oxigenado para a gasolina. A frota flex brasileira se consolida e proporciona o pulmão que consome excedentes de produção gerados por sucessivos choques de oferta.
Apesar de estarmos produzindo uma menor quantidade de veÃculos, o consumo de álcool combustÃvel permanece crescente. A competitividade economica foi alcançada e agora o obstáculo é o desenvolvimento de um mercado com baixo risco de suprimento.
A confiabilidade do fornecimento de energia é mais importante que o preço, e certamente é o fator determinante para o sucesso e longevidade do setor sucroalcooleiro. O Brasil conhece muito bem esta lição, foi a insegurança do consumidor, durante e após a crise de abastecimento de álcool de 1989-90, que causou a substituição do consumo do álcool hidratado pelo anidro, processo que levou à estagnação do consumo anual por praticamente 20 anos, entre 1986 e 2006, na faixa de 11,6 a 13,8 bilhões de litros.
Precisamos nos preocupar em desenvolver mercados para o etanol no exterior, mas tão importante quanto isso é uma maior diversificação das origens capazes de suprir o mercado mundial. Não adianta nada ser o maior produtor de alguma coisa que ninguém consome, ou confia no suprimento.
Os problemas que estamos observando atualmente fazem parte da consolidação de um programa energético de sucesso. Após esta tormenta o setor sucroalcooleiro brasileiro certamente estará mais preparado para um mercado crescentemente competitivo e acirrado que vem pela frente.
* Guilherme Nastari é economista, e diretor de novos projetos da DATAGRO. |