Está chegando a hora
Muito se tem falado sobre a redução ou eliminação das comissões sobre vendas de passagens. Aliás, como citou o Engenheiro Mor da TAP, se fala nisso há seis anos, mas graças às ações impetradas, ainda temos muito chão pela frente e não será pelos discursos ou mensagens à “la Garcia” de executivos das empresas aéreas que se vai eliminar o ganha pão de milhares de agências de viagens e o emprego de outra dezena de milhares de pessoas.
Estou seguro de que há muito ainda que se debater para que as empresas aéreas entendam que comissões são remunerações por serviços efetivamente prestados e não custos que se possa cortar irresponsavelmente. Mesmo porque, esta estória de custo é balela, pois essas mesmas empresas costumeiramente oferecem através de seus sites preços de passagens e condições mais favoráveis do que através do agente.
O que mais estranho é que, como presidente da Abremar (Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas), tenho que discutir com o Ministério do Trabalho e Emprego a contratação de algumas centenas de funcionários para trabalhar nos navios de cabotagem, por períodos curtos e colocando em risco até a vinda dos navios de cruzeiros para o Brasil. Em contrapartida, jamais sentimos qualquer preocupação ministerial sobre a eliminação de milhares de postos de trabalho nas também milhares de pequenas agências de viagens existentes.
A ameaça do corte das comissões tem estado presente de forma permanente na imprensa há mais de seis anos, ora por declarações das empresas internacionais, ora pelas nacionais, ora pelas mais variadas entidades representativas dos vários segmentos do setor. Existem até aquelas que, em princípio, já se submeteram previamente às potenciais determinações de alguém, criando formas de cobrança de seus serviços dos consumidores de forma a contrariar toda a política aeronáutica de anos, que não autorizava aumentos nas passagens para não prejudicar o bolso do consumidor.
O assunto agora está fervendo e também, curiosamente, num momento de céu de brigadeiro para as empresas aeroviárias. Quer por razões de demanda ou provenientes da situação da Varig, com cancelamento de centenas de vôos, as companhias aéreas se aproveitaram, tantos as nacionais como as estrangeiras, para promoverem aumentos e, ao mesmo tempo, aplicar as mais altas tarifas dentro da maluca divisão de “n” letras em que são distribuídos os preços. Eliminaram o serviço de bordo e aumentaram o numero de poltronas, de tal forma diminui-se a distância entre as fileiras para caber mais poltronas que se chegou até a imaginar que, dentro em breve, os aviões estariam configurado como o avião japonês da charge espalhada pela internet, em que os passageiros viajariam em pé encostados, como numa espécie de tábua de passar.
A refeição a bordo foi eliminada sob o pretexto de que avião não é restaurante, mas não precisavam oferecer sanduíches gelados, mini-saquinhos de salgadinhos ou barras de cereal. As norte-americanas estão até cobrando pelo fone de ouvido, pela cervejinha e pelo bolinho, e cobrando caro! Tem mais: já se cobra taxa extra até por poltronas no corredor ou na janela. Outras exigem pagamento pelo cobertor, travesseiro e fone de ouvido.
E as multas? Agora existem multas para tudo, até pela troca de um vôo com espaços suficientes para outro em igual condição. Algumas posturas das empresas aéreas sinalizam até que não precisam de passageiros, pois chegaram ao cúmulo de fazerem acordos para não concessão de descontos aos agentes de viagens participarem de eventos promocionais de turismo. Foi o que aconteceu na recente feira La Cumbre, realizada em Las Vegas, EUA, na qual o Brasil teve uma pífia representação, o que vale dizer que essas empresas estão tão bem que se recusam a participar de atividades geradoras de passageiros. Chega a ser uma incongruência.
O que nos aguarda no futuro? Além das agências de viagens terem sido obrigadas à realizar investimentos para afiliação a entidades como a IATA a fim de receberem sua justa remuneração, a investir na contratação de sistemas de reserva, na constante atualização tecnológica em suas lojas e escritórios, a se submeter ao leonino sistema de cobranças estabelecido pela IATA/Copet, e, ainda não recebe o merecido por suas vendas?
Mas incongruência mesmo é a passividade de nossas autoridades do Turismo e do Trabalho diante de um quadro tão calamitoso. Acordem Anac, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério do Turismo - está chegando a hora de interferir.
Eduardo Vampré do Nascimento é presidente do Sindetur-SP. Este artigo será veiculado na 57ª edição da Revista Turismo em Números (RTN), publicada mensalmente pela entidade, que circulará no dia 16/10/2006.