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África e Brasil - união estratégica e necessária

Silvana Saraiva

Recentemente, a posse de um novo governo reacendeu discussões sobre as relações comerciais entre Brasil e demais blocos econômicos mundiais. Após especulações sobre cortes em orçamentos estratégicos, que incluíam o fechamento de embaixadas em países africanos e caribenhos, foi decido, com acerto, recuar e manter o diálogo já em curso entre Brasil e África. Prevaleceu o entendimento do ministro José Serra de que “a política externa vai ser feita de modo a atender aos interesses do País e não de ideologias e conveniências”.

Os negócios, hoje, entre Brasil e países africanos vão muito além da compaixão de outrora, já que os vínculos são de parceiros reais. Se levarmos em conta o intercâmbio comercial entre os players envolvidos nos últimos dez anos (de 2006 a 2015), assistimos a um incremento real de 9%, com crescimento de 10% nas exportações e de 8,1% nas importações, de acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Diante destes dados, prevaleceu o entendimento de que compensa manter as embaixadas, o que permite ao Brasil alavancar novas posições e expandir sua influência geopolítica.

O País vive um momento em que o corte de gastos é primordial para o resgate da confiança e o reaquecimento da economia. Eventual fechamento de embaixadas e realocação ou dispensa de colaboradores geraria custos extras. Na questão econômica, não há muito o que questionar: o Brasil é um país continental e necessita de relações com todo o planeta. Em seu discurso de posse, o ministro José Serra foi categórico: “Nós vamos levar adiante nossa relação com a África, não com base em culpas do passado, mas sabendo como podemos cooperar também em benefício do Brasil”. É evidente que o titular da pasta está a par da importância geopolítica recíproca para a economia de ambos os partners.

O Instituto Feafro atua desde 2007 como interlocutor entre os países do bloco africano com o Brasil. Temos hoje as credenciais para reunir ministros de Relações Exteriores de várias nações africanas, na busca de manter esse relacionamento vivo. Trabalhamos para que os projetos que vêm se realizando nos últimos anos tenham continuidade. É preciso levar em conta que, a despeito dos avanços conquistados, nações como a Rússia e a China estão presentes no território africano. E concorrem com a gente. Com ou sem o Brasil, é certo que os países africanos continuarão a crescer, pois eles têm petróleo, minério, bancos consistentes, população e terra fértil.

Quanto mais um banco africano se fortalece, como vem ocorrendo, a Europa sofre perdas. Não tem cabimento o Brasil arrefecer o relacionamento diplomático e comercial com os países da África. Isso seria um erro estratégico grave, que nos faria lamentar no decorrer dos próximos anos. Além do mais, o Brasil ganhou cadeira na OMC e na ONU porque os presidentes dos países da União Africana nos elegeram como seus representantes. Não queremos perder essas conquistas - e tudo faremos para desmanchar esse risco.

Há números muito elucidativos. Mais de 70% do cacau produzido no mundo é oriundo da Costa do Marfim e de Gana. A relação comercial dos produtores com o mercado comum europeu se fortaleceria sobremaneira, com o apoio e voto brasileiro em disputas envolvendo esta commodity. Também cabe registrar que 82,5% do petróleo importado pelo Brasil em 2015 proveio da União Africana.

Por fim, é preciso abolir a ideia falsa de que negócios com as nações africanas significam, a piori, ganhos milionários. Não é bem assim, pois o mundo de hoje se pauta pelo conceito de sustentabilidade. Não há mais espaços para mentalidades predatórias, fixadas no lucro pelo lucro. O papel primordial do Instituto Feafro, há quase 12 anos, é o de trabalhamos para promover desenvolvimento econômico, criar intercâmbios e contribuir por mais justiça social para os povos brasileiro e das nações africanas.

*Silvana Saraiva é presidente do Instituto Feafro.

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