Artigo - Climas extremos influem negativamente sobre safra 2012/13
Climas extremos influem negativamente sobre safra 2012/13
*Guilherme Nastari
A região Centro-Sul tem sido afetada por clima atípico desde o início do ano, o que tem causado nas operações agrícolas e industriais. O IRC DATAGRO (Índice Relativo de Chuvas), ferramenta que permite interpretar medições pluviométricas nas regiões produtoras de cana do estado de São Paulo, demonstra claramente que meses historicamente secos foram, em 2012, extremamente úmidos. Em Maio houve 18,9% mais chuvas do que as médias históricas dos últimos 30 anos, enquanto em Junho foram superiores a 410%. O reflexo destas chuvas foi sentido com intensidade na moagem de cana da última quinzena de Junho, que atingiu 31,7 milhões de toneladas, queda de 24,9% em relação à mesma quinzena de 2011, que foi um ano bastante seco. O rendimento industrial sofreu impacto deste clima úmido, com média de 124,61 kg ATR/tc na última metade do mês de Junho, quebra de 6,8% sobre o rendimento obtido em igual período do ano passado.
O clima adverso afetou também o mix de produção, direcionando 46,2% da oferta de ATR à fabricação de açúcar no acumulado da safra até Junho, ante 45,02% em igual período de 2011/12. Em função das chuvas abundantes deste período a indústria perdeu poder de cristalização da matéria prima, dado o aumento da concentração de açúcares redutores, o que explica o maior mix alcooleiro em um cenário em que o açúcar oferece rendimentos mais atrativos.
Em Julho as condições climáticas foram relativamente normais (apenas 2,2% mais chuvas do que a média no estado de SP), permitindo avanços na colheita e moagem. Neste momento as usinas intensificaram os esforços para evitar perdas e recuperar o ritmo de moagem, processando nos primeiros 15 dias de Julho 42,18 milhões de toneladas de cana, aumento de 3,9% sobre igual quinzena de 2011. Na segunda metade do mesmo mês, a moagem alcançou recorde de 46,27 milhões de toneladas, 10,78% a mais que igual período do ano anterior.
Apesar do maior volume de cana moída, produções de açúcar e etanol pouco avançaram em relação à safra anterior, em virtude das perdas com rendimento industrial. Fruto das chuvas intensas entre Maio e Junho, a concentração de ATR na cana atingiu nas primeira semanas de Julho 130,53 kg ATR/tc, índice 4% inferior ao obtido em mesma quinzena do ano passado. Na última quinzena foram obtidos em média 133,20 kg ATR/tc, queda de 6% sobre iguais semanas de 2011. A baixa produtividade é reflexo do clima úmido entre os meses de Maio e junho, que diminuíram a concentração de açúcares aproveitáveis na cana. Em contrapartida, o clima úmido propiciou melhora na produtividade agrícola do período com 80,24 ton/hectare, crescimento de 12,1% sobre mesma quinzena de Julho de 2011.
Em contrapartida ao clima excessivamente úmido dos meses de outono, a primeira quinzena de Agosto inaugurou um período anormalmente seco. Nos primeiros 15 dias de Agosto as usinas do CS moeram 44,25 milhões de toneladas de cana, volume 14,2% maior que o esmagado na mesma quinzena da safra anterior. Apesar da fraca recuperação do rendimento industrial, cujo índice esteve 2,8% abaixo do registrado em igual quinzena do ano passado, a indústria foi capaz de produzir um recorde de 3,02 milhões de toneladas de açúcar em uma quinzena, 13,7% a mais que em 2011. O período de secas continua ao menos até a metade de Setembro, e apesar de contribuir para a recuperação do ritmo de colheita e moagem obtido em outros anos, traz uma série de outros problemas à cana-de-açúcar e rendimento industrial.
No somatório do desempenho a moagem de cana ainda está 12,6% abaixo da quantidade moída no mesmo período de 2011/12, em muito devido aos meses de chuvas. Foram esmagadas até a primeira quinzena de Agosto 261,09 milhões de toneladas de cana, contra 298,89 milhões em igual intervalo de 2011. Considerando as perdas com o rendimento industrial, a produção de açúcar atingiu até a primeira quinzena de agosto 15,32 milhões de toneladas, redução de 12,3%, enquanto a produção de etanol totalizou 9,96 bilhões de litros, queda de 17,5%, dos quais 3,69 bilhões de anidro (-17,5%) e 6,27% hidratado (-17,3%).
O reflexo do clima extremo em 2012 acentua ainda mais o problema de qualidade da matéria prima no Brasil. Canaviais frágeis e suscetíveis a perdas significativas de rendimentos agrícolas ainda são bastante comuns na região Centro Sul. O setor tem enfrentado obstáculos ao crescimento nos últimos 5 anos, como clima atípico e volatilidade de preços nos principais mercados, no entanto é preciso investir para garantir produtividade e suprir as demandas futuras.
*Guilherme Nastari é mestre em agroenergia e diretor da DATAGRO.