Até quando vamos conseguir comprar um carro?
Com um crescimento significativo, a indústria automobilística brasileira passa a se posicionar como uma das mais importantes no ranking mundial. Foi observado nos três primeiros meses de 2008 um crescimento relativo médio, de licenciamento de veículos leves, superior a 40%. Só em março deste ano, foram licenciados 204.083 veículos; incremento de 17,1% sobre o mesmo mês do ano anterior, e de 116% em relação a 5 anos atrás.
Existem algumas frentes que podem justificar este desempenho nos níveis, de licenciamento. O impacto do aumento de credito certamente foi o combustível principal para que a indústria esteja diante desta demanda grandiosa por veículos leves.
O reflexo de políticas econômicas mais estáveis e um cenário internacional menos volátil possibilitaram a diminuição do risco de credito. O setor financeiro passou a disponibilizar novos patamares e formas de financiamento, que há muito tempo não eram observados internamente.
Passamos a usufruir de privilégios que antes eram observados sómente em paises desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Europa. Financiamento total, baixas taxas e longos períodos de amortização passaram a ser facilmente encontrados.
Porém outro fator pouco discutido é o aumento da participação do combustível renovável utilizado na matriz brasileira de combustíveis líquidos. A disponibilidade de etanol combustível, em volume suficiente e a preços baixos, tem aumentado a renda pessoal disponível das unidades familiares. Em outras palavras, o consumidor brasileiro está aumentando seu poder de compra quando utiliza o etanol como fonte de energia líquida.
O ganho gerado pela utilização de etanol está indiretamente financiando uma parte relevante das prestações dos financiamentos para a aquisição de veículos. Naqueles de menor valor de aquisição , este impacto é ainda maior.
Um tanque de gasolina, de 50 litros, custa em média na cidade de São Paulo R$ 120,00. O equivalente em km para o etanol custa R$ 87,50. O ganho efetivo de utilizar etanol, ao invés de gasolina, é em média de R$ 130,00 por mês.
Para alguns consumidores o ganho é ainda maior, pois mensuram esta vantagem pela diferença direta de valor entre o abastecimento de um tanque de álcool ou de gasolina, sem levar em conta o menor poder calorífico do álcool. Por esta conta, o incremento na renda percebido é de R$ 260,00 mensais.
O impacto destes ganhos de valor nas classes sociais de nível de renda mais baixa viabiliza a aquisição de muitos veículos que historicamente não estavam sendo comercializados. Classes C e D passaram a gozar a oportunidade de possuir veículos leves como as classes mais capitalizadas.
Comprar uma televisão ou comprar um carro está ficando cada vez mais parecido. A principal diferença é que no mercado de eletrodomésticos o consumidor não possui o auxilio gerado pelo etanol no processo de financiamento. Respeitadas as devidas proporções, comprar um carro está ficando tão atrativo quanto comprar uma televisão de tela plana.
Entretanto, o aumento na demanda por veículos não está sendo acompanhado, no mesmo ritmo, por investimentos em infra-estrutura. O impacto será observado na possibilidade de aquisição de veículos futuros. Políticas contracionistas, como pedágios urbanos e rodízios de placas, certamente irão estacar a tão almejada capacidade de aquisição de veiculos do brasileiro.
Guilherme Nastari
Analista econômico, Novos Projetos
DATAGRO